segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Silêncio e linchamento no Museu imperial

Linchamento é palavra que nasceu no século XIX, durante a guerra de Independência dos EUA. Na Virgínia, certo juiz, William Lynch, instaurou a execução sumária, sem julgamento regular. As vítimas? Negros e índios, na maior parte, inocentes. No século XXI, a sociedade nos ensina a não resistir. A nos submeter às regras por ela impostas. A negociar os conflitos e a considerar que as finalidades de uma sociedade são sobretudo aquelas de cada parte que a compõe. Nada mais incerto. Sobretudo quando se assiste a um linchamento. E, sobretudo, quando o agredido não consegue se fazer ouvir. Quando não consegue denunciar o caráter injusto e arbitrário das acusações que lhe são imputadas. Diferentemente da gritaria que cercava o linchamento no passado, o atual se faz sob o mais absoluto silêncio. Sob censura criada por uma autoridade velada. Silêncio de morte. Pois é hora de rompê-lo.
Maria de Lourdes Parreiras Horta dirigiu, por mais de 17 anos, o Museu Imperial de Petrópolis. Sob sua gestão, o MI foi recorde de visitação com cerca de 300.00 pessoas por ano, foi uma das 7 maravilhas do Rio de Janeiro à frente do Maracanã, criou programas de educação patrimonial e serviços de áudio-guides, sala de cinema, entre outros. Sublinhe-se que 50% da arrecadação de todo o IPHAN, incluindo os museus federais, vem de suas bilheterias que recolhem cerca de 1.500.000,00 por ano. Sem dúvida, o MI é âncora do turismo no estado do Rio.
Uma das razões pelas quais o MI se tornou referência foi à criação de uma Sociedade de Amigos, constituída por personalidades de renome internacional e grandes empresários do país. O SAMI não recebe um centavo de verba pública e a receita extraordinária de cerca de 1.000.000,00 por ano é aplicada na instituição sob controle rigoroso do Ministério da Justiça. Em 1999, graças a sua imagem, o MI recebeu a maior doação de um acervo particular ao acervo público da história do país: a Casa Geyer e sua “brasiliana”.
Misteriosamente, esta gestão de sucesso, reconhecida nacional e internacionalmente, começou a ser torpedeada a partir de VER. Desde então, denúncias anônimas pipocaram. Sem nenhuma fonte precisa, jorraram denúncias de irregularidades. Reportagens injuriosas e gratuitas encheram a mídia. Certa mentira deslavada sobre “o roubo das jóias da coroa imperial” correu o país. Ingênuos, os jornalistas sequer se perguntaram a quem podia interessar essa crucificação. Com apoio dos apressados, teve início um linchamento que chocou e pior, calou colegas, amigos e admiradores da direção. Reações? Uma lista com mais de mil assinaturas endereçadas ao ministro da Justiça, em busca de justiça. Resposta: silêncio.
“Nunca dantes neste país” se acusou tão injustamente um funcionário com décadas de dedicação ao serviço público. Os que o acusam, se protegem alimentando o mesmo silêncio. Indigno, ele é a marca de uma autoridade espúria que entende perpetuar seu modo de pensar, suprimindo toda a resistência em benefício do conformismo e da uniformidade. Anos de censura não desaparecem graças ao milagre da revolução democrática e a contemporaneidade inventou formas sinuosas de interdição. A pior delas, é a outra forma de silêncio: aquela que faz as pessoas se calarem diante de um auto-de-fé! Por isso mesmo, exigimos uma resposta: por que Maria de Lourdes Parreiras Horta está sendo linchada?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Mangueira 2010

Pois bem ontem dia 09 de janeiro de 2010 fiz minha estréia na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, escola de samba do primeiro grupo do Rio de Janeiro.
Até então eu sempre ouvira falar nas qualidades da escola tal e coisa e coisa e tal.
Tenho um amigo, Aluizio, membro efetivo da diretoria da escola e baluarte da Casa, que nos convidou gentilmente para seu camarote.
Fomos então em caravana para lá, sua esposa, filha, neta, amigos e amigas.
O entorno da escola, que não tem nada haver com isto, é deplorável, com uma enorme confusão de barracas, motos na contra mão e toda a sorte de dificuldades que sabemos bem, nós cariocas, que as comunidades passam.
Pena que o Choque de Ordem propagado pela Prefeitura de Cidade não chegou e provavelmente nunca chegará por lá, afinal mexer em vespeiro não dá votos futuros e o custo político é enorme, então o Poder Público finge que não sabe e se omite em mais esta função sua.
Mas, quero falar da Mangueira.
Entramos, Aluizio foi recepcionar-nos na porta e todos devidamente empulseirados para o camarote, sim eu fui de camarote VIP.
Ao entrar a quadra é enorme, quente como todas as outras, mas um calor bom, humano, alegre.
Mas daí toda uma diferença se fez ante meus olhos.
Já fui ao Salgueiro, já fui a Unidos da Tijuca, ainda na quadra antiga no sopé do morro do Borel e sou freqüentador não tão assíduo como poderia mas freqüento muito a Estácio de Sá.
Mas em nenhuma delas pude perceber o profissionalismo e o entusiasmo pelo nome da escola.
O peso da tradição se explicita a cada momento naquela quadra, sagrada para muitos.
De frente para o palco, antes de a bateria iniciar seus trabalhos, uma enorme bandeira, o pavilhão da escola com suas cores verde e rosa dando o tom principal do lugar.
A cima os camarotes da presidência, vip e demais.
Na quadra em si, mesas por todos os lados dando o conforto possível aos visitantes.
Na lateral da quadra uma surpresa, para mim, que me deixou extasiado com o senso de oportunidade.
Uma loja vendendo os produtos da escola de samba, desde camisetas a boné, chaveiros e CDs.
Nada melhor que aproveitar o momento de empolgação, de êxtase para arrecadar fundos, a loja, lotada em todos os momentos.
Há muito o carnaval deixou de ser uma festa simples e tornou-se um negócio que movimenta milhões de reais todo o ano e ao longo do ano todo, e cada centavo possível tem de ser cooptado. Ou seja, uma empresa como outra qualquer que tem de gerar lucro.
No caso do carnaval este lucro deve ou deveria ser transformado em mais qualidade e oferta de serviços da escola. E acredito que em sua grande maioria o é.
Em dado momento o Presidente da escola, Ivo Meireles, toma o microfone de seu camarote e dirige-se ao público agradecendo a presença de algumas pessoas famosas e obviamente a todos que lá estavam, mas o mais interessante foi a maneira fácil com que ele em alguns minutos fez com que toda a quadra cantasse uma musica desconhecida, fácil claro, mas com uma garra e uma paixão que acredito só mesmo o samba pode proporcionar.
Não o conheço, nem o conheci, mas acho que este diálogo entre o presidente da escola e o público que lá está fundamental e ainda mais, o diálogo entre ele e os membros da escola. Esta atitude além de trazer para si a responsabilidade administrativa trás o integrante da escola para o lado do dirigente, dando ainda mais empolgação à escola.
Pelo que vi ontem e com um samba, desta vez fazendo homenagens certas e não como outrora que se deixou em branco o centenário de Cartola, a escola tem tudo para dar o campeonato tão merecido e esperado a esta agremiação.
Eu, ainda sou Estácio, mas a Mangueira ganhou uma ponta de meu coração.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ensinar é uma arte

Ensinar é uma arte.
Outro dia estava a confabular com um amigo em Itaipava, ao som do vento e acompanhados de uma boa dose de seriedade.
Pois bem, entramos no assunto de trabalho, como iam as coisas, como as coisa deixavam de ir, tal e coisa.
Como sabem atuo no mercado de arte e joalheria e ao mesmo tempo sou professor universitário na UniverCidade na Escola de Turismo e Hotelaria.
Então meu amigo me perguntou o que eu mais gostava mesmo de fazer e não valeria dar como resposta, óbvia as duas coisas.
Entrei em um parafuso mental em ascendente seguido de um mergulho direto e reto em responder que, eu adorava dar aula.
O mercado de arte é uma paixão, uma necessidade tanto de vida quanto do ponto de vista do prazer, mas, dar aula é uma necessidade intelectual, uma vontade de achar pequenas coisas que venham a fazer a diferença na aula.
Tirar o aluno do dia-a-dia.
Leciono história da arte e história do Brasil, além de outras, mas estas duas me fazem refletir até que ponto eu como professor estou despertando no meu aluno a vontade de buscar mais e melhores informações a cerca de determinado assunto.
Sim acredito que a real função do professor, claro, além de ensinar, obviamente, é desenvolver no aluno a vontade de buscar maiores informações.
Não sei se consigo plenamente meu intuito mas que eu me esforço isso não restam dúvidas.
Fico abismado quando em reunião de professores nosso coordenador fala que colegas dão a mesma aula a mais de um semestre e que as provas vão se intercalando conforme os anos, isso me estarrece e me faz pensar que este colega já não tem mais o brilho do ensino no olhar e que talvez com tantos reveses que nós professores passamos, com tanta descredibilidade este professor esteja deixando morrer o fogo ou como brinco, o furor acadêmico.
Ensinar é uma arte e como tal precisa ser renovada a cada dia, ser movimentada e acima de tudo tem de dar prazer ao professor, se não, cairemos no dia-a-dia e desestimularemos os alunos, e isso é um tiro no pé.